terça-feira, 28 de abril de 2009

Cisco (a) Cisco

Cisco (a) Cisco



Mário Liz



Já reguei a planta dos pés, intenso de amor, sonhando raízes. Errei o sentido da dor, fabriquei cicatrizes. Já me vesti do impulso do corpo, do gosto do cuspe, da pele pela pele e nada mais. Já vesti de ódio a minha paz e dei rancor ao meu sossego. Já fui cego, surdo e mudo. Já tive vinte sentidos: um pra cada dedo. Já tive dados jogados ao céu, dados escritos no papel e dados de amendoim no talo da boca. Já tive a pele roxa, a pele vermelha e um riso amarelo a um passo da forca. Já tive poemas amontoados em gavetas. Amigos esquecidos em gavetas. E por tantas vezes morri em gavetas como forma de abrigo. Já tive um umbigo do tamanho do centro da Terra. E já tive terra no centro do umbigo. Comi poeira, vi o bonde passar. Enchi os olhos d’água. Engoli a mágoa e dei vida aos dentes quando a Banda se fez a tocar. Já tive tanto medo que o verbo mal me saía. Já tive tantos verbos que até me fartei de tanta alegria. Corri, voei, dancei, chorei, escrevi, esqueci, medi, montei, segui, agi, parei. Tudo verbo viver, tudo verbo sonhar: ao vento, planar e sumir. E no mesmo movimento: sentir e voltar. Já tive de frente com a morte. E vi um filme a triscar-me nos olhos. Às vezes tudo que se vê, são apenas ilhas. E de nada valeu sonhar, se o sonho não cortou o oceano. Já tive dias humanos, e por hora, ainda os tenho. Só não sei até quando a calma vai me abraçar. Porque se tudo é alma, o vento também é alma. E se de cisco a cisco Ele move montanhas. De cisco a cisco onde é que o meu Obelisco... vai se encontrar?

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Não, eu não me chamo Hildebrando...



Não, eu não me chamo Hildebrando...



(Mário Liz)


Sou poeta. Não há nada brando. Não me chamo Hildebrando. Nem me pego vibrando por coisa que não me faça sonhar. Eu bem poderia me chamar Marcelo: Meio Mar, Meio Céu. Mas nasci arredio: Meio Mar, Meio Rio. Duas águas, duas febres, duas forças. Dois encontros no epicentro do peito. Um sujeito esquisito: com falhas, confetes, com fogos, conflitos. A minha arma é o infinito que não se pode olhar. O infinito são meus olhos: eu me vejo em cada caco da vida. Eu sou um quebra-cabeças. Peça por peça me conheça. Peça por peça me pessa carinho. O Bem que me apossa. Minh'alma coça pra dizer o que o poema escreve. Tento ser leve, mas não me chamo Hildebrando. Sou Poeta...

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Anedota

Anedota


(Mário Liz)

A Verdade cospe vidros. Esfola a alma, retalha. Um verbo de navalha lambido nos cortes. Verbos de morte no meu teatro. Retrato que me restou. Finda fantasia com cheiro de festa. Num sopro se foi...

Agora sou Eu, a Verdade, Ela em mim, amarga em feto, meio e fim. Ela e Eu, Eu por ninguém, além do que o sonho ousa suportar. Vou me portar miúdo, meio gago, meio mudo, meio medo, meio mundos e dedos na face.

O paralelo era doce. Elos que criei, pára-choques. Não fosse a Verdade, eu seria Quixote. Um filhote de pássaro permeando sonhos no céu.

Mas Ela amputa asas. Enxuta, seca a fonte. No escuro, largueia entradas: uma caixa de fósforos, um novo horizonte. E tudo se molda conforme a roda. A dor se põe a girar.

E no Giro a Poesia me vem em confetes e tiras: não sabe se traga a verdade. Ou me abranda em velhas-novas-mentiras.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Avesso & Verso


Avesso & Verso

(Mário Liz)

Não é corte, é alma rompendo pele. Dói, não é apenas peito aberto. É sangue, é grito, é nervura. Não é apenas livro aberto, é carne ao avesso, o salto da veia, os dentes, as unhas. É tudo vivo, vermelho e quente... não tem cheiro de valsa morta. Também não é belo e nem é leve: pesa, arde e corta. Então é uma massa viva de dor. Ou mais que isso: é aço quente em carne crua... arde como paixão. Tem cor de entardecer, mas não tem brisa. Quando vem, esfola a pele lisa. Risca em lâmina rente. Alenta com vinagre, o grandioso milagre da cura pelo pesar. E como pesa. A carne ao avesso carrega pedras em passos pisados num piso de brasa. É oceano... somente oceano... não há margem rasa. Nem rosas brancas. O que não é prazer, está pra ser dor. É forte, aguerrido e profundo. E está para mim... como o sol está para mundo.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Rio de Cores


Rio de Cores

(Mário Liz)

Um sonho, uma cidade.
Um verso, uma flor nas esquinas.
A poesia me dissemina.
É meu levante...
Elevador ao céu... me pertence!
Um sorriso circense, um balé.
Qual é o jeito de estar a fio e não sangrar a carne?
Eu digo:
Arme um rio de cores no coração...

Quem sou eu

Minha foto
Pouso Alegre, Minas Gerais -, Brazil
Redator Publicitário e Planejamento Estratégico da Cartoon Publicidade, graduado em Publicidade e Propaganda pela UNIVAS. Bacharel em Direito, graduado pela Faculdade de Direito do Sul de Minas. Roteirista do projeto multimídia E-URBANO1 e E-URBANO2, pela UNIVAS E UNICAMP. Ganhador do concurso nacional de redação de 2006 (MEC E FOLHA DIRIGIDA-RJ), onde superou mais de 37.000 concorrentes. Ganhador do Concurso de Redação da UFSCAR, em 2006. Colaborador da Revista Reuni. Tem publicações na revista científica RUA (UNICAMP) e no LIVRO DIGITAL DE 2011 (UNICAMP).