terça-feira, 14 de dezembro de 2010

4 Atos

I

CorpoLíngua, PelePêlo, Calor&Tato. Sou água, sou ar, suor. Te molho os seios, entro e saio sem pedir licença. Te sugo os sais a sós e acendo os sóis da tua febre a me queimar. Te cego e sigo em tuas curvas claras e toco e beijo as tuas curvas turvas. Te travo as unhas no meu peito aberto e aborto o caos da minha alma toda. Te molho as pernas e os teus segredos e os teus sagrados se consagram nos Ais da tua voz.

II

Me dou em brados, gritos inteiros, quebrados, solfejos de cama, cítara, de kama-sutra. Ritos de seita. De açoite. Aceita! É o gosto ébrio da noite. Impulso nato. Farto. Um quarto inteiro. Travesseiros. Travessuras. Um quarto em qualquer lugar. Nos montes. Nos matos. Teu grito. Um silvo na selva. Ressalva que não existe. Teu grito. Grato meu corpo no teu. É como se fosse um eco. É feito um poema meu.

III

Te abro as pernas.  Te dou meu dorso. Tua palma espalma. Eu me contorço. Te aperto os quadris. Inverto respostas. Me verto em tuas costas. Te tomo a cintura. É pele. É carne. Os ossos. É tudo a fio. Um gosto de sal. Os nervos a mil. E não percebemos que há mundo. Pois o mundo não há. Há apenas os nossos corpos. E qualquer sinfonia coadjuvante.  A se fundir  com os gritos. No agrado de nosso instante...

IV

E no ato quarto quando tu te vais: o Poeta é chão. O poeta é solo.   Dedos abertos que contam segundos.  Dedos fechados que explodem consolo...


(mário liz)

domingo, 21 de novembro de 2010

Poema do Contra





nem tudo que escrevo é dia. nem tudo que ouso é risco. nem tudo que choro é cisco. nem tudo que ergo é queda. nem tudo que é um é cada. nem tudo que subo, escada. nem tudo que penso, existo. nem todo suor, exausto. nem todo meu goethe, fausto. nem toda maré tá pra peixe. nem tudo que é luz é feixe. nem tudo que é faixa é gaza. nem toda porção é rasa. nem tudo que é flor é rosa. nem tudo que ri me zomba. nem tudo que explode, bomba. nem tudo que esbarra, tromba. nem tudo que vejo, brilha. nem todo fernando é ilha. nem toda pessoa, fernando. nem tudo que colho é lírio. nem todo meu arco é íris. nem todo meu barco pesca. nem tudo que é gozo é festa. nem tudo que como, farto. nem tudo que amo é quarto. nem tudo que chuto é bola. nem tudo que leio é bula. nem tudo que trago, fuma. nem todo deserto é duna. nem toda tristeza é só. nem todo meu laço, nó. nem todo meu grito ecoa. nem tudo se vende à toa. nem toda beleza é tua. nem toda nudez é crua. nem tudo que gela é frio. nem todo esse sangue, cio. nem tudo que corta é faca. nem mesmo o que crava estaca. nem tudo que estica é flácido. nem todo meu ódio, ácido. nem todas as margens, plácidas. nem todos os três, tenores. nem todos atores, ateus. nem tudo que cura é deus. nem tudo que diz é fala. nem toda bagagem, mala. nem tudo do prato, como. nem tudo que é homo é hétero. nem tudo que é hétero, gênio. nem tudo que é homo, sapiens. nem tudo que é sapo pula. nem tudo que sinto, adula. nem tudo que é bob, dylan. nem tudo respeita a fila. nem tudo que é fogo, péla. nem tudo que soca, pila. nem todo remédio, ampola. nem tudo que mato, morre. nem tudo que corre, foge. nem toda essa porta, entre. nem tudo que é hoje é sempre.

(mário liz)

terça-feira, 16 de novembro de 2010



quero você. e você. e você. e saibam: há mais poesia na minha saudade que na saudade de todas as pessoas. há mais vento em minha tempestade pois há menos tempo em mim. meu dia é um sopro. minha noite, um estalo. não me calo pra dormir. a dor não vai se dirimir num sono. nem vai me acenar se for embora. e isso faz do meu tempo a metade de um agora. ou menos que isso : o intervalo entre o chão e o precipício. a queda de peito aberto. meus cacos. meus trecos. e essa vontade quasETERNA de nunca mais me encontrar...

(mário liz)

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

fato grafia

 
vontade de ser pra semprAgora. com amigos e amores ao meu lado. o pulso é mais intenso com eles. dá pra sentir o sangue agradecer o corpo: - bom menino, é bom demais correr aqui.  o vermelho segue solto. e o riso salta mundo afora. desaforo o Tempo nos perder. por isso vem a vontade irracional de parar e deixar tudo como está: o sereno a desabar na vida e minha alma se perdendo do frio com o fogo de cada olhar. e eu me perderia de toda e qualquer forma de frio se a vida aquietasse assim. então, que o último ato não surja de uma retórica, mas seja o de um retrato. para que as cores luzidas e paralisadas digam mais que qualquer coisa... qualquer coisa que o tempo vá um dia nos dizer. 
 
(mário liz)

domingo, 15 de agosto de 2010

Carta Branca



o amor mal resolvido não se resolve. e nem se dissolve. e nem se diz salve a nenhum amor, pois amor algum é razoável. e é razoável que todo amor não se resolva. pois há ressalva em tudo que não é torpor. mas é certo que do amor eu me comova. como move o pensamento: a coisa sem lugar. sem largar o que se sente. e o que não se consente: iremos nos com... sentir.

mário liz

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

... e eu me perco na poesia de me perder e me pender, dependurar. e de pé, durar até o corpo dizer não: não pare! paire se a vida pede chão. a vida pé-de-chão e seu cimento. não há de concretar-me a perdição. e o pé-de-vento.

(mário liz)

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

.


feito uma lesma
que lambe sal
eu vou te lamber
e ponto final
.

(mário liz)

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

"Hay que endurecerse. Pero sin perder la ternura jamás".

cueca não é gaiola porque pinto não é passarinho. a razão porque pinto esta idéia é clara. o que se pinta embaixo se estampa na cara. por isso uma cueca tem de ser leve. e livre. e sexy. sem sequelas e sem tortura. com a cor da tara das meninas. e o alívio de endurecer, sem perder a ternura.  

(mário liz)

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Clave de Sou



Dó-ré-mi-faço em mim. e me calo como todos que cantam: calado a ouvir o mundo a berrar. Sol zinho: Lá em Si, o meu canto é mais mundano. Dó-ré-mi-afano a tristeza e a jogo pro ar. Lá em Si no meu dano. na frente-verso onde aberrar é humano. sim, eu emano de Lá...


(mário liz)

segunda-feira, 26 de julho de 2010

escOMBROS...

Cara Luxúria,

você é mesmo cara em luxo e fúria. entre corpo e cara: à beira de tudo, se tudo é noite. a madrugada-sina: amar, drogada sina de amar a noite. vício que o meu verso assina: essa cena de me ver de perto. sem teto, ombros leves. leves ombros: facilmente vão do céu. aos meus escombros.
 
(mário liz)   

quarta-feira, 21 de julho de 2010

A Canção que nasceu quebrada ...



o que se pode esperar da vida: o espetáculo da dúvida. a certeza de quem duvida. a incerteza sem dúvida. os respingos de dádiva. os dias de chuva. a coisa calada e devida. a vida de vidro... quebrada. o ébrio na carne da uva. a tristeza esquecida. a dor adiada. o amor que cai feito luva. e as mãos sem luvas. que caem ressecadas. e se unem à terra perdida. com o pó das feridas. e as lembranças contadas. em um retalho de cores antigas. e em cantigas que vão retalhadas...

(Mário Liz)  

segunda-feira, 19 de julho de 2010

fecho os olhos e os arregalo. 
calo minha agonia com outra agonia  
(a de não me calar). 
meu corpo e meu suor a regá-lo. 
e  meu veneno... 
que me embala uma canção de ninar...

(mário liz)

terça-feira, 13 de julho de 2010

Cartão de Visitas ...



cera que derrete. ser alma. eu me canso de cerALMA. ser uma pessoa só. e me canso de ser todo carne. mesmo com a carne da vida em mim. emano. é menos calma. é mais vontade. é a idade que quero. pílulas inventadas. assopradas. voam no vento. é minha paixão VENTADA. ventiladores. tiram as dores e me tiram do chão. atiram. matam o silêncio. que nem faz questão de morrer. é assim quando se é a sinfonia de um grito: muito prazer se lhe aqueço o atrito. muito atrito se lhe gelo o prazer...

         mário liz

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Madame Satã no Paraíso dos Porcos



Madame Satã no Paraíso dos Porcos


(Mário Liz)



sou a puta que pariu teu filho. tenho uma teta falha: ela tá mordida, não dá mais leite. só mesmo deleite (e a quem pagar mais). e falar menos. tem que ser sem beijo. tem que ser sem toque. é rock’n’roll, baby! vem por cima, de lado, por baixo: eu me encaixo no teu gosto. eu gosto é de sangrar na fenda. e de gritar entre sangue e merda. devida merda. merda de vida. 


sexta-feira, 4 de junho de 2010

haicai mineirês




haicai mineirês


(Mário Liz)


Entre o soco e o aplauso:
Eu perco o amigo
Mas não perco o causo

segunda-feira, 26 de abril de 2010

?



?

as pessoas aparecem. e aquecem. e apodrecem. e renascem. e apetecem. e esquecem. as pessoas parecem de ficção. não fixam. elas são. e não são. e sentem. e ressentem.  e pressentem. e se presumem sãos. ora são do céu. ora chão. ora chovem. ora jovens. anciãos. anseios: as pessoas querem. procuram. procriam. matam. preservam. observam. e dizem não. ou dizem sim. ou nada dizem. e seduzem. e sedentas. e se bentas, pecam. e no inferno pedem a deus. e com 2 querem 3. e com 3 querem 4. e no ato seguinte ficam a sós. nós desatados. a coisa ímpar. o corpo em tom fetal. o encontro fatal com o espelho. muito amarelo, pouco vermelho. os olhos e o rio salgado afora. corre intenso aqui dentro. e agora?

(mário liz)

sexta-feira, 16 de abril de 2010

o Rato-Elefante



eu até o temeria, fosse ele um elefante. mas é um rato... come o próprio rabo, é escravo de sua ratoeira. mal assume a paixão que sente. rato bipolar. mais Bi, menos polar. coisa de gente mal resolvida. diz que é pai, mas quer comer a própria filha. diz que é do mundo. mas seu umbigo é a ilha em que vive. é triste estar tão-Mundo e tão só. é feito um nó que lhe furta a garganta. a garganta, o brio, o chão, o éter. é, amigo... se aqueça em um suéter e durma. porque apenas assim as suas noites serão quentes: com o calor humano das suas roupas.

(Mário Liz)



sexta-feira, 5 de março de 2010

Azul



enquanto colho a dor
com minha pá-de-neve
um grito me apaga
e um poema me escreve


(mário liz)

sábado, 27 de fevereiro de 2010

O Pão Ósseo de cada dia



O Pão Ósseo de cada dia


(mário liz)


depois do braile, quando li teu corpo. manhã de neblina (e cafeína). cheiro de cigarro. e escarro na rima. no pós-palco do meu vício. aberta a minha cortina. cortadas as cores. e os sabores na retina. como quem reteve a saliva. que te lavo na cara. com sangue e resina. sem luz do sol no teto do mundo. e nem mesmo o pavio da parafina. para o fino da minha angústia. para o feno do meu prato. o pão ósseo de cada dia roído hoje. amém.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010





vai... que sonhar não empalidece. desce a ladeira brincando de escorregar. e não esquece de regar o seu pé-de-feijão. pede mais brilho no esboço. mais cores no terraço. e não seja tudo o que lhe ousam ser. nem queira crescer antes do tempo. e se a dor lhe pedir, a impeça. mostra a mão em tom de “pare”. e não espera pra sorrir. ou serrar o silêncio em gargalhada. pois a estrada é menos pedra aos pulinhos. e na vovó há sempre alento e goiabada.



(mário liz)

sábado, 13 de fevereiro de 2010

rato-novela



rato-novela




(mário liz)



o rato rói o petisco e a mulher, as unhas.

ele e ela, cara a cara 

num mato sem cão e gato.

na inversão dos tamanhos:

ele gigante, perto do céu,

ela num porta-retrato.

pequenina, tão menos humana.

e ele-humano: já sob dois pés:



- por um momento, deixei de ser rato...

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Dentes e Flores II




Dentes e Flores II




(mário liz)




fui lançado entre dentes e flores.

em tridentes que rasgam amores.

e amores em unhas e dentes.

e espinhos à flor da pele das flores.

e pétalas no ranger dos dentes.

pois em mim não há dor que me cale o bastante.

e nem alegrias o suficiente.

que não me façam chorar o amanhã

exalado em minha alma presente.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

capricho


desde os tempos mais remotos (dinossauros, Adão e Eva)... que eu odeio Física. E odeio sem precedentes ...

mas com uma coisa eu tenho que concordar: existe energia até em um grão de poeira!







havia um grão de areia...
que parecia pequeno.
mas quis a vida -
num desses caprichos que ela me faz...
tirá-lo do chão.
e nas barbas de um mundo tão grande
por que raios ele tinha de se encontrar
logo com o meu
olho
?


(mário liz)

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

(já?)neiro.



amigos leitores,

eu não costumo colocar "off" em minhas postagens. Acho que em toda história do meiomarmeiorio devo tê-lo feito umas duas vezes. Mas é que esta, em especial, merece uma colocação: a questão da "prostituta em seu lapso de santa". Agradeço à leitora e escritora Danielle, por criar o conto que em seu blog subdivide-se em: Uma dose de Humanidade e Lágrimas de Sangue, porque minha inquietação se fez a partir dele.

Quem quiser conferir a pérola, acesse: http://purasimpressoes.blogspot.com/ 

vale a pena.

um forte abraço e tenham um ótimo 2010.





um ano novo é como um filho que nasce. então há todo aquele cuidado: cortar o cordão, alimentá-lo, limpar a merda. e muito embora o tempo não pare, o ano pode morrer. e parece que em mim ele nasceu meio morto. aí chegam as pessoas e dizem: olha pro’s seus problemas, poeta... eles são tão pequenos. mas é que cada coração tem um tamanho. e cada corpo uma força. e eu sinto minha sombra um tanto mais arcada. sei lá se isso é cruz ou se é credo. o que sei é que não há segredo: minhas pernas doem. minhas costas doem. e às vezes bate uma vontade estranha de parar. não morrer, parar. é algo mais covarde que me doar à morte. e eu também não poderia me dar a esse luxo. não por mim, é claro. há gente que me ama (andando por aí). almejando mais tempo ao meu lado. e sinceramente... não sei me expressar quanto a isso. eu sei que é bom. e o que me dói mais é não achar tão bom assim. na verdade eu me sinto como uma prostituta que se faz de santa e horas mais tarde, volta ao metier. porque será assim quando eu terminar essa letra. ela sairá de mim em um parto de sangue e luz. mas o passo seguinte será o entrave: eu de cara com a vida e sem claridade. sem sangue. sem parto. só cuspe e úteros secos.




(mário liz)

Quem sou eu

Minha foto
Pouso Alegre, Minas Gerais -, Brazil
Redator Publicitário e Planejamento Estratégico da Cartoon Publicidade, graduado em Publicidade e Propaganda pela UNIVAS. Bacharel em Direito, graduado pela Faculdade de Direito do Sul de Minas. Roteirista do projeto multimídia E-URBANO1 e E-URBANO2, pela UNIVAS E UNICAMP. Ganhador do concurso nacional de redação de 2006 (MEC E FOLHA DIRIGIDA-RJ), onde superou mais de 37.000 concorrentes. Ganhador do Concurso de Redação da UFSCAR, em 2006. Colaborador da Revista Reuni. Tem publicações na revista científica RUA (UNICAMP) e no LIVRO DIGITAL DE 2011 (UNICAMP).