eu até o temeria, fosse ele um elefante. mas é um rato... come o próprio rabo, é escravo de sua ratoeira. mal assume a paixão que sente. rato bipolar. mais Bi, menos polar. coisa de gente mal resolvida. diz que é pai, mas quer comer a própria filha. diz que é do mundo. mas seu umbigo é a ilha em que vive. é triste estar tão-Mundo e tão só. é feito um nó que lhe furta a garganta. a garganta, o brio, o chão, o éter. é, amigo... se aqueça em um suéter e durma. porque apenas assim as suas noites serão quentes: com o calor humano das suas roupas.
(Mário Liz)
5 comentários:
Mas foi pego.
Texto forte como o tema pedia.
abraços e bom final de semana.
Amigos leitores,
peço perdão pela ausência.A vida está tão corrida, afazeres do trabalho, da faculdade ... tive de deixar a poesia para segundo plano.
Felizmente, surgiu este poema, um poema-resposta a um grande amigo. E realmente é assim: a vida é repleta de Ratos-Elefantes, pessoas que parecem ser algo que realmente NÃO SÃO. É quase uma bipolaridade seletiva ... em que se utilizam da síndrome do Médico e do Monstro para se justificarem ao mundo. Mas eu creio que a única justificativa plaúsível para o fenômeno dos Ratos-Elefantes é o medo da solidão. Afirmar-se só, não ter coesão alguma entre o que há por dentro e o que se manifesta aqui fora são sintomas de claros de vazio.
O que sinto ante a isso é um híbrido entre a pena e a indiferença:
A indiferença surge quando as atitudes incompatíveis com a idade mental, emocional e física se manifestam com o "nobre" intuito de "CHAMAR A ATENÇÃO" para suprimir carências afetivas ou crises existenciais.
A pena, ou dó, ou compaixão à fraqueza alheia ... surge quando eu me coloco no lugar de um Rato-Elefante: um oceano raso, uma vida repleta de mentiras, de sentimentos não declarados, de prazer com a tristeza de outrem.
E mais uma vez, me colocando no casco, digo, na pele de um Rato-Elefante, me indago com impulsos que certamente me levarão a incertezas:
- E quando todo este circo se findar? E quando minha filha-companheira arranjar um namorado? E quando meus desenhos surreais precisarem de palavras que não beirem o ridículo? E quando meus cachorros morrerem? E quando minha família, que não é eterna, se for pra longe de mim?
Ainda bem que eu sou quem eu sou. E essas coisas eu apenas sinto quando me coloco na pele de um Rato-Elefante.
boa...gostei!!
Legal aqui!
[]s
Sabe, Mário? Eu tenho mais medo de ratos do que de elefantes. Aliás, meus medos estão muito mais ligados ao que não posso ver, aos que se escondem nos vãos das paredes, na escuridão dos esgotos, bem embaixo de nosso chão. Tenho medo do que espera a calada da noite pra agir em surdina, que trama, se entranha, vive de nossos restos, roendo as estruturas. Tenho medo do que não se mostra, não chama pra briga. Apenas dá sinal de vida como pra anunciar a morte. Ratos de guerras atômicas que rondam nossas vidas, nossa segurança. Uma guerra que nunca vai acontecer porque se acontecesse seria o fim de tudo. Uma guerra que nunca vai acontecer mas já está acontecendo. As cartas estão na mesa (e nas mangas) e cada um vai dando suas cartadas com o único intuito de não deixar o jogo acabar. Porque nesse jogo não haverá mesmo vencedores. Perdemos todos. Aliás, somos todos cartas, peças num tabuleiro xadrez, dividido entre brancos e pretos, bons e maus, certos e errados. Uma grande ilusão. A ilusão de que também não há muito de ratos dentro de cada um de nós. A ilusão de que não somos todos cinzas. E verdes, amarelos, vermelhos...
Espero que encontre algum sentido nisso tudo.
Quanto a seu comentário, não se preocupe. Vá e volte sempre que quiser. Sempre muito bom ver suas impressões, suas expressões. Bjs.
Mário,
conduzir a vida
e manter a poesia
é um desafio e tanto!
Também tenho me permitido
algumas ausências,
para estar mais presente
nas questões cruciais
do dia-a-dia.
Bacana
essa inspiração repentina,
fruto de um debate
com um amigo!
Amei o trecho:
"seu umbigo é a ilha em que vive".
Quantas pessoas
vivem assim...
Não sei
se ratos,
se elefantes
ou se ratos-elefantes.
Só penso,
distintamente,
que sequer as suas roupas
têm calor humano.
Um grande abraço,
doce de lira
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